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UMA GRAÇA «A UM PREÇO ALTO». Homilia do cardeal Marcello Semeraro na beatificação de Floribert Bwana Chui bin Kositi

A sua fé, vivida até ao sacrifício, fala hoje a um mundo marcado pela corrupção e pela violência.

«A esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» (Rm 5,5): é o que ouvimos hoje na carta de São Paulo aos Romanos e que hoje sentimos quase repetir pela sua própria voz enquanto, junto ao seu túmulo, celebramos a Santa Eucaristia.

A esperança não engana... São palavras que o Papa Francisco retomou no início da Bula de indicação do Ano Jubilar que estamos a viver. Ele recordava-nos que, tal como já à comunidade cristã da Roma do seu tempo, também a nós o Apóstolo quer infundir coragem. Por nossa vez, correspondendo a este convite, todos nós nos comprometemos a ser testemunhas do amor «derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado».

Pedimos, portanto, a São Paulo «que saiba cultivar e difundir a sua caridade, tornando-nos próximos uns dos outros, na mesma corrida de afetos que, a partir do encontro com Cristo, levou o antigo perseguidor a tornar-se tudo para todos, até ao martírio». Estas palavras foram pronunciadas aqui no passado dia 20 de maio pelo novo Papa Leão XIV, a quem dirigimos o nosso pensamento filial, gratos por ter, entre os primeiros atos do seu ministério petrino, assinado o decreto para a beatificação de Floribert Bwana Chui.

Também neste jovem, como em São Paulo e na innumerável multidão de mártires que chega até aos nossos dias, revela-se o poder da fé em Deus que justifica (cf. Rm 5,1-5).

Celebrando, depois, a festa da Trindade, recordo algumas reflexões de Bento XVI quando, já Papa emérito e meditando sobre este mistério, dizia que nele encontramos o sentido da verdadeira unidade que é amor: «E o amor implica sempre um eu, um tu e um nós, e assim é a unidade perfeita, a mais profunda, real, única, a unidade mais radical. A unidade de Deus não é a de um átomo, de uma quantidade mínima invisível, mas é a maior unidade, é a unidade criada pelo amor... E assim se aplica também a nós: porque Deus é amor, pode amar também a nós, pequenos, e nós podemos amar a Deus» (Il silenzio ci tiene per mano, LEV, Cidade do Vaticano 2025, p. 274).

Penso que, nesta luz, podemos compreender também o testemunho de Floribert, fiel leigo da Igreja de Goma e membro responsável da Comunidade de Sant'Egidio. Ele abriu-se totalmente ao amor que o abraçava, a ponto de se deixar moldar profundamente por ele e fazer dele a bússola que orientava as suas escolhas. É o que transparece dos testemunhos recolhidos sobre ele: em todas as ocasiões da vida, Deus era a sua referência. E que assim era realmente, prova-o a cópia da sua Bíblia, conservada em Roma, no Santuário dos Novos Mártires em San Bartolomeo all'Isola, que mostra os traços de uma leitura constante.

Esta é, aliás, a espiritualidade que se vive na Comunidade de Sant'Egidio. Foi assim que o Papa Francisco a descreveu quando, por ocasião do 50º aniversário da sua fundação, em 11 de março de 2018, visitou a Comunidade na basílica romana de Santa Maria in Trastevere. Ele disse: «Oração, pobres e paz: é o talento da Comunidade, amadurecido em cinquenta anos». Foi precisamente isto que Floribert descobriu ao ouvir a Palavra de Deus, à luz da oração: que «há mais alegria em dar do que em receber» (At 20,35). Daqui nasce a sua atenção pelos pobres de Goma, em particular pelos mais desprezados e marginalizados, ou seja, as crianças de rua.

A estas crianças, desenraizadas e sem família, ele queria dar esperança e futuro, e também por isso se empenhou com elas na Escola da Paz.

Queridos irmãos e irmãs, ouçamos novamente o que dizia o novo beato: «Todos têm direito à paz no coração»! Numa época marcada pela guerra e pela violência, em que tantos na República Democrática do Congo e noutros lugares procuram a paz, estas palavras tocam-nos mais do que nunca. Se hoje, de facto, celebramos aqui em Roma a sua beatificação, é porque, infelizmente, em Goma não existem condições de segurança e tranquilidade. Floribert, aliás, esperava poder fazer uma peregrinação a Roma. Este seu desejo – de alguma forma – realiza-se espiritualmente com a celebração de hoje.

Prece, pobres, paz. O nosso Beato procurava tudo isto no clima tenso da sua cidade. Entre os testemunhos recolhidos, lê-se que ele não queria a guerra e que, precisamente com o seu empenho, pretendia reunir os jovens de Goma como numa família. Por isso, escolheu partilhar o empenho de Sant'Egidio pela paz, porque – dizia ele – «coloca todos os povos à mesma mesa». Sonhava ser um homem de paz e poder assim contribuir para a paz da sua terra, que tanto amava. Hoje, portanto, fazemos nossa a sua aspiração por um Congo em paz, reunido à mesma mesa como uma família.

Rezemos com fé pela paz, em comunhão com a Igreja que habita em toda a República Democrática do Congo, aqui significativamente representada.

A mesa, hoje, é para nós o altar litúrgico, mesa da Palavra e da Eucaristia, da qual o Senhor nos fala e nos alimenta (cf. Sacrosanctum Concilium, 56), evento que é «o ponto culminante tanto da ação com que Deus santifica o mundo em Cristo, como do culto que os homens prestam a Cristo e, por Ele, ao Pai no Espírito Santo» (Sacra Congregação dos Ritos, Eucharisticum mysterium, 6). Em torno desta Mesa, todos nós aprendemos, como Floribert, a não viver mais para nós mesmos, mas para aquele que morreu e ressuscitou por nós (cf. 2Cor 5,15).

Para este jovem, chegou rapidamente o momento da escolha: foi quando, com ameaças e lisonjas de corrupção, lhe pediram para passar pela alfândega alimentos estragados que envenenariam as mesas do povo de Goma. Ele, alimentado pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, perguntou-se: «Se eu fizer isto, estarei a viver em Cristo? Estou a viver para Cristo?». «Como cristão – respondeu a si mesmo –, não posso aceitar sacrificar a vida das pessoas. É melhor morrer do que aceitar este dinheiro».

A escolha era decisiva; naquele momento dramático, tratava-se de escolher entre viver para si mesmo e viver para Cristo. E isso tem um preço; é, aliás, um preço caro. É aquela graça de que escreveu D. Bonhoeffer, também testemunha de Cristo: «É o tesouro escondido no campo, por amor ao qual o homem vai vender tudo o que tem, com alegria...» (Sequela, Queriniana, Brescia 1971, p. 23). No nosso contexto, a graça a um preço elevado é a resistência ao mal, até ao fim, até ao derramamento do sangue.

Eis o relato que fez o Papa Francisco, em 2 de fevereiro de 2023, durante a sua visita apostólica à República Democrática do Congo:

«Com apenas 26 anos, foi morto em Goma por ter impedido a passagem de alimentos deteriorados, que teriam prejudicado a saúde das pessoas.

Ele poderia ter deixado passar, não o teriam descoberto e ainda teria ganho dinheiro. Mas, como cristão, rezou, pensou nos outros e escolheu ser honesto, dizendo não à sujeira da corrupção. Isso é manter as mãos limpas, enquanto as mãos que traficam dinheiro se sujam de sangue. Se alguém lhe oferecer um envelope, prometer favores e riquezas, não caia na armadilha, não se deixe enganar, não se deixe engolir pelo pântano do mal...»

Lembro-me das palavras do Evangelho: «Que vantagem terá um homem se ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua própria vida?» (Mt 16,26). Considerando esta pergunta, São João Crisóstomo exclamava com força: «Deixa tudo o resto e volta a tua atenção para a salvação da tua vida» (In Matth. Hom., 55,3: PG 58, 544). São Inácio de Antioquia escreveu: «Existem duas moedas, uma de Deus e outra do mundo, e cada uma delas tem a sua própria marca: a do que não acredita tem a marca do mundo; a do que é fiel, porém, tem a marca do amor de Deus Pai por meio de Jesus Cristo» (Magn., 5,2: Funk, Patres Apostolici, I, p. 232).

Foi isso que fez o beato Floribert: compreendeu que a sua alma... e também a vida do seu povo eram infinitamente mais preciosas do que o dinheiro. E hoje, graças à fidelidade da sua vida que o conduziu ao martírio, a Igreja indica-o como testemunho e propõe-no como mestre para todos nós.

Ele é isso para muitos jovens africanos, a quem ensina a não se deixarem vencer pelo mal, mas a vencer o mal com o bem. Ele é um mestre de esperança para eles – e não só – porque no seu humilde exemplo muitos jovens de todo o mundo podem descobrir a força do bem e a coragem de fazer o bem, resistindo às seduções de uma vida dominada pelo medo e pelo dinheiro.

Por intercessão deste novo Beato, que o Senhor conceda aos jovens e a todos os crentes da Igreja no Congo, em particular em Goma, uma nova força para perseguir o bem, resistindo ao mal. Encorajada pelo seu exemplo, que a Comunidade de Sant'Egidio continue com liberdade no triplo caminho da oração, dos pobres e da paz. Que o Senhor nos dê a todos a força para guardar a mensagem do Beato Floribert, em cujo coração o amor de Deus foi derramado pelo Espírito Santo.

Basílica de São Paulo Fora dos Muros, 15 de junho de 2025 – Solenidade da Santíssima Trindade

Cardeal Marcello Semeraro