No dia em que o mundo inteiro soube com tristeza do falecimento do Papa Francisco, os jovens da Comunidade de Sant'Egidio quiseram expressar com palavras sinceras e gratas o quanto o seu testemunho deixou uma marca indelével nas suas vidas. Uma mensagem cheia de carinho, memória e compromisso, escrita pelos «Jovens pela Paz», que retoma as palavras e os gestos do Papa que soube falar aos corações, abrindo caminhos de paz, solidariedade e esperança para todos, especialmente para os mais pequenos, os pobres, os esquecidos.
A carta
Roma, 21 de abril de 2025
Querido Papa Francisco,
quando soubemos do seu falecimento, nós, jovens, sentimos imediatamente um vazio.
Ao mesmo tempo, compreendemos que a sua herança é um tesouro precioso.
Nestes anos, o senhor convidou-nos a sair do «eu» e a olhar para um «nós» universal, acompanhando-nos num caminho de fé que nos ensina a assumir a responsabilidade pelos mais fracos. Numa época de globalização da indiferença, abriu-nos o olhar para o outro. Quando pensávamos que a única coisa importante era o sucesso, ensinou-nos que não nos salvamos sozinhos e que ninguém deve ser deixado para trás.
Compreendemos aquele «estamos todos no mesmo barco» porque estava sempre pronto a vislumbrar um futuro melhor, apesar dos acontecimentos.
Os receios por tantos sinais de ódio preocupavam-nos, mas a tua voz estava sempre voltada para a paz. Às famílias salvas graças aos corredores humanitários, disseste que o acolhimento é o primeiro gesto para construir a paz. Perante a guerra na Ucrânia, assim como na Terra Santa e em tantos outros conflitos esquecidos, falavas-nos de paz.
Dirigiste-te ao Sul do mundo, tantas vezes explorado, convidando-nos a não nos resignarmos, mas sim a sonhar com uma sociedade sem exclusões, mais humana, que acolhe a diversidade e as dificuldades. Apelaste aos poderosos para que voltassem o seu olhar para o sofrimento daqueles que clamam por ajuda, porque a história deve ser vista de baixo, com os olhos dos que sofrem.
Mostraste-nos como são importantes os sonhos das crianças. A infância não pode ser a periferia da existência, mas deve estar no centro, porque é o futuro que está em jogo, que pertence às crianças e aos jovens, como nos reafirmou durante as Jornadas Mundiais da Juventude.
Ensinou-nos a cuidar do ambiente. Todos habitamos esta nossa casa comum, muitas vezes explorada. A criação que nos rodeia é um dom único, e protegê-la é uma responsabilidade.
Tu te dedicaste à promoção de cuidados de saúde justos e acessíveis a todos: a medicina salva vidas e todos devem ter o direito de ser tratados da mesma forma. Porque um mundo mais justo não conhece discriminação.
Talvez o teu maior dom tenha sido justamente o de nos fazer compreender a importância de uma palavra: solidariedade. Só colocando a solidariedade no centro, podemos realmente cuidar dos outros.
Mostrou-nos isso ao abrir casas de acolhimento para os pobres em palácios que outros queriam transformar em hotéis para os ricos, ou quando regressou a Roma com famílias de refugiados de Lesbos e Chipre, ou quando, visitando as periferias do mundo – da Albânia ao Sudão do Sul, de Mianmar ao Peru –, deu centralidade à vida dos povos que são «todos irmãos».
Querido Papa Francisco, o teu legado faz-nos sonhar. Por nos teres mostrado o caminho para um futuro melhor, não podemos deixar de te agradecer e pedir-te que continues, lá de cima, do céu, a guiar-nos e a proteger-nos.
Os Jovens pela Paz da Comunidade de Sant'Egidio